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Dialética e Cultura
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O que é dialética?

A palavra dialética significa, originalmente, dois discursos, dois pensamentos que as vezes podem ou não divergir. Tomando como base teórica o pensamento de Hegel, filósofo Alemão do século XVIII, a dialética pode ser compreendida como o método para se alcançar a verdade como movimento interno da contradição, ou seja, de dois termos que se negam. Para esse filósofo, o estabelecimento de uma síntese da verdade se dá com um elemento positivo (tese) em confronto com seu negativo-contrário (antítese). Essa dialética faz nascer uma outra tese, sintética, que não é nem negação, nem afirmação, mas a junção de duas afirmações sintetizadas.

A cultura e suas facetas

Fazer sexo por amor, falar corretamente, entender metáforas e criar estruturas simbólicas não são atitudes inatas ao ser humano. Se isolássemos uma criança, fora do convívio social, ela não seria humana. Poderia ser qualquer coisa, menos um ser humano. Isso porque, o que aprendemos, os valores que estabelecemos nas relações, as crenças, os laços de afeto, a capacidade crítica ou a consciência de seus atos, no homem-mulher, são fruto da cultura. É a cultura (e com ela, segue-se a educação, a socialização, a simbolicação dos atos etc. ) que humaniza o homem. A Cultura, segundo o pensador Vieira Pinto, é o processo pelo qual o homem acumula as experiências que vai sendo capaz de realizar, discerne entre elas, fixa as de efeito favorável e, como resultado da ação exercida, converte em ideias as imagens e lembranças, a princípio coladas às realidades sensíveis, e depois generalizadas, desse contato inventivo com o mundo natural( VIEIRA PINTO, Álvaro. Ciência e Existência, p. 123).

Ao contrário do animal que age, sente e pensa no e pelo instinto, o ser humano age, sente e pensa a partir do seu cabedal cultural, que lhe é transmitido de geração em geração. E sua ação acontece no mundo e pelo mundo. Só ele consegue converter ideias em projeto e este em realidade. Ele sai de si, dirige-se ao outro e modifica a natureza. Mas sua modificação, na natureza e na realidade, agrega conhecimentos passados e presentes para construir (n)o futuro. A história é exatamente esse suporte que permite ao homem construir saber e cultura no presente a partir do passado e projetando-se para o futuro. Somos, nesse sentido, filhos de uma herança histórica. Cidadãos cósmicos, que tem pelo menos 15 bilhões de anos – e 4 milhões de idade cultural. Pelo saber, pela arte e pela simbolização, unidas ao trabalho, o ser humano manipula o mundo, a natureza – e, infelizmente, o seu semelhante. Ele age nela e por ela, sem que  deixe, por isso, de ser um animal natural. É um animal humano deveras! Um caniço pensante, como diria Pascal ou um nada consciente na linguagem de santo Agostinho.

 

Conceito de Cultura

Cultura: todo comportamento aprendido. Envolvem crenças, valores, hábitos, construções artísticas e arquitetônicas... Esta é a concepção de cultura hoje, principalmente desenvolvida por Tylor. Mas, quatro séculos antes de nossa era, Confúcio já afirmava que “a natureza dos homens é a mesma. O que os diferencia uns dos outros são seus hábitos”. É bastante atual este pensamento porque, quando se afirma que a natureza dos homens é a mesma, significa dizer que a constituição biológica é a mesma em todos os indivíduos, mas que estes se diferenciam pelos seus hábitos, ou pela construção cultural que é diversa de povo para povo. Laraia escreve a partir do grande dilema que norteia o capítulo: como conciliar a unidade biológica do homem e a diversidade cultural que caracteriza os povos? Tal dilema permite que surjam, a partir do século 20, duas ideias que explicam a questão cultural. Trata-se do determinismo biológico, que afirma ser as características genéticas e hereditárias de determinados grupos ou etnias os fatores determinantes da diversidade cultural.

Um exemplo de determinismo biológico acontece quando entendemos que os Judeus são habilidosos comerciantes ou que os alemães possuem uma pré-disposição para a mecânica. Por outro lado, também emerge a ideia de um determinismo geográfico defendendo que fatores físicos (clima, altitude, região, lugar, etc.) condicionam o modo diversificado dos comportamentos. Desta forma, explica-se que as pessoas que moram na Bahia, lugar de clima quente, têm hábitos de não trabalharem muito, serem lentas em detrimento dos fatores geográficos deste Estado. Em oposição aos determinismos está a concepção de endoculturação – processo pelo qual os comportamentos e as práticas culturais estão sujeitas ao aprendizado. Desta forma, uma criança que nasce no Japão, se for educada no Rio de Janeiro, adquirirá, por meio do aprendizado, as características culturais do Brasil. Depois destas considerações, estudemos alguns autores que são importantes para compreendermos a Cultura.Tylor definiu Cultura como “um todo complexo que inclui comportamentos, crenças, valores e toda construção material”. Ele estruturou os termos Kultur (do germânico) entendendo-o como os aspectos espirituais de um povo e Civilizacion (do francês) como os aspectos da construção material.

Desta estruturação de termo nasce à ideia de cultura material e imaterial. Taylor também explica a diversidade como o resultado das desigualdades do processo evolutivo de cada cultura. Ele é bastante influenciado pelo evolucionismo darwinista, inclusive chegando a justificar a ideologia da dominação quando sugere a superioridade da Europa como uma nação “civilizada”, em detrimento dos bárbaros, não-civilizados. Antes de fazermos um juízo de valor sobre as contribuições de Tylor, é indispensável que consideremos seu contexto – o evolucionismo de sua época era linear. Para criticar o evolucionismo, surge Franz Boas. Este autor entende que cada cultura apresenta resposta diferente para seus problemas de acordo com seus eventos históricos. Desta ideia nasce à concepção de particularismo histórico: é a partir das investigações históricas que se descobre à origem deste ou daquele traço cultural. Cada povo traça caminhos diferentes para seus eventos históricos. Neste caso, o evolucionismo é aceito de forma multilinear. Além destas criticas e do particularismo histórico, Bom sugere que a antropologia deve ter duas tarefas importantes: a) construir a história dos povos ou regiões particulares; b) comparar a vida social dos diferentes povos. Franz Boas propõe o uso do método da comparação história e da comprovação dos diversos eventos históricos de cada cultura. Outro autor que merece nossa compreensão é Kroeber. Ele, no artigo “superorgânico” procura evitar a confusão entre o homem orgânico e cultural. Neste artigo, Kroeber afirma que o homem cria cultua, supera as determinações biológicas e constrói seu próprio processo evolutivo, apesar de depender das funções vitais.

O homem perpetua sua espécie e se apresenta como um ser que está acima de suas limitações orgânicas. Ele liberta-se da natureza e se expande. O homem, como afirma Laraia, “é o resultado do meio social em que foi socializado”. Neste sentido, ele é herdeiro de um processo acumulativo: no decorrer da história o homem acumula conhecimento e experiência. Não basta que a natureza crie indivíduos inteligentes. É preciso que o meio ambiente condicione o desenvolvimento e a criatividade dos “gênios”. O homem modifica, se o ambiente for propício, seu habitat. Mesmo sem asas, consegue voar. Cria o avião. Santos Dumont não teria desenvolvido conhecimentos aeronáuticos se estivesse somente em sua cidadezinha no interior de nosso país. Foi necessário que o ambiente fosse favorável para que ele desenvolvesse a primeira máquina voadora. Finalizando, compre-nos entender que alguns antropólogos contemporâneos vêm tentando apresentar respostas para a origem da cultura. Merece destaque dois deles: Lévi-Straus afirmando que a cultura nasce quando se estabelece à primeira regra social, o Incesto – comum a todas as culturas humanas; e Leslie White: este antropólogo defende que a cultura nasce com o desenvolvimento do neucrotex. É quando o cérebro evolui e o homem cria símbolos que nasce a cultura. Todas as sociedades possuem símbolos e, para entendê-los, precisamos conhecer e compreender a cultura que os criou.

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Sival Soares, em 03 de junho de 2011